Avenida dos Sonhos, 1988

Escritos cômicos e cósmicos...

quarta-feira, maio 03, 2006

É ano de Copa! Vamos começar a tocer. Por tudo.

Futebol! O que corre nas veias do brasileiro? Será que alguém coloca alguma coisa no leite das nossas crianças? Aliás, no Leve-Leite delas? Impossível pensar em Brasil e não pensar em Futebol. Indiscutivelmente mais importante que todas as crises políticas pelas quais passamos (tudo bem, só passei por essa última, que tenha consciência...), o Futebol (com letra maiúscula) nos coloca num patamar cultural elevado: O País da Bola. Quando ela está em jogo, todos os problemas desaparecem, todas as preocupações parecem ser pequenas, ninguém liga para o que está do lado de fora do estádio (ou da TV), e isso apenas nos diverte mais do que qualquer outra coisa naquele exato momento de regozijo. Quase uma obra de arte, feita para nos entreter em momentos de estresse e tédio, características comuns da minha geração e das anteriores (geração essa que, certo dia, escreverei sobre também...). Um espetáculo universal, com apenas o propósito de enfiar a bola no gol... Gol que atravessa a linha, e chega nos corações daqueles que amam o esporte como a si próprios. E ouve-se o grito de felicidade, explodindo da boca do povo: GOL!

Grito que abafa quase todos os outros sons desse Brasil: A voz da moça que andava por essas ruas desertas, gritando de desespero quando atacada por dois maníacos sexuais que estupraram-na até o limite da própria dor "e com a camisa da torcida por cima de seu rosto, não conseguiram ouvir seu último suspiro"; a voz da mãe brigando com seu filho, tentando obrigá-lo a ter uma vida decente, enquanto a mente do rapaz está, no momento, direcionada na televisão do vizinho, mas, ainda assim, com preocupações na sua cabeça, como a dívida com os traficantes, a certeza de que, se não conseguir se livrar dessa, não terá outra chance de assistir a um jogo... Preocupações? Sim, claro, como não... Não era o seu time que jogava; o som do tilintar das moedas, junto com notas, roubadas de uma loja em cima de uma mesa de vidro, manchadas de sangue (não daqueles que as carregavam), trazendo a história na cara, e a vergonha na coroa; e, por último, o som do arrastar dos pés de uma dança de políticos, felizes da vida: mais um colega havia sido inocentado! Poderiam até comemorar com o vinho que o senador encomendara, na casa do ministro, com as três putas prediletas do presidente, e, ia quase me esquecendo, dois a zero! Noite perfeita...

O que não se ouve (pois ninguém tem coragem de dizer), o que apenas se vê, se sente, no fundo do coração, é a vergonha, a tristeza, a desesperança, a chama apagada de uma tocha que nunca esteve por muito tempo acesa, e, quando esteve, uma luz fraca e pálida não conseguia iluminar nada além dela mesma. E não existe mais o medo, pois, no lugar, o conformiso tomou conta, e o que nos resta, num mundo de cada um por si, é rezar pela vida de vossos filhos, apagar a luz e esperar a partida terminar.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Realmente...
Pois é Du...você disse tudo, quantas vezes nós não esquecemos um pouco essa vida de preocupações, crises e tudo mais quando estamos pensando em nada mais nada menos do que FUTEBOL, cara...você disse tudo... Friends forever...e futebol na cabeça e nos pés...!!!!!

3:04 PM  
Blogger **PapoPop** said...

mandou bem, muuuuuuuito bem!
abração!

1:37 AM  
Anonymous Anônimo said...

Hum, nesse texto você conseguiu ilustrar muito bem a política do pão e circo que ainda funciona nos dias de hoje .. hahaha ... boa sorte com o blog e sucesso, tudo bem que você não vai ter tanto sucesso como eu, mas não desista e siga os passos do seu ídolo ... abraço para o meu fã ... hahaha

3:52 PM  
Anonymous Anônimo said...

Legal dudu! parabens!! Ta legal o texto, apesar de achar que vc se perdeu um pouquinho no meio e tal...

Mas ta da hora! vc tem talento! Vou lembrar disso quando for seu chefe! hauhaua

4:04 PM  
Anonymous Anônimo said...

Achei.sensacional!

Apesar.de.um.tanto.pesado.

:)

6:15 PM  

Postar um comentário

<< Home