Avenida dos Sonhos, 1988

Escritos cômicos e cósmicos...

sexta-feira, outubro 01, 2010

Resenha: A corrida para o seculo XXI - no loop da montanha-russa

A comparação com a sensação vertiginosa de quando estamos no pico do loop de uma montanha-russa em relação ao momento atual da nossa sociedade demonstra que o autor Nicolau Sevcenko acertou a mão ao descrever com minúcia os principais fatores que modelaram a história contemporânea, desde os primeiros indícios de que a cultura – entende-se por cultura a forma de vida de determinada população – ocidental ansiava por maior agilidade até os suspiros de uma juventude que atualmente decide se quer guiar ou ser guiada por um modelo político-social defasado.

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O autor vai e volta no tempo com uma freqüência dramática necessária para criar a dinâmica perfeita entre a leitura e a compreensão. Da Segunda Guerra ao Tatcherismo, dos problemas do terceiro mundo às mudanças tecnológicas, da indústria do entretenimento de massa ao descaso com o meio ambiente. Tudo é fundamental para se entender os motivos pelos quais a sociedade se tornou aquilo que hoje conhecemos.

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O interessante é notar como a leitura nos traz surpresas a cada página virada. Não sabemos o que vamos encontrar, apesar de termos a sensação de que “já vimos esse filme”. A exemplificação do surgimento do cinema é chocante. Se o leitor, fã da sétima arte, vai se enchendo de júbilo ao ler sobre sua criação é somente para, frases depois, se acotovelar ao ler que essa “arte” foi criada com o simples intuito de vender mais, mais barato e no menor tempo possível um entretenimento fácil e banal.

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Mas, para continuar nesse exemplo, o mérito do cinema não é de forma alguma minimizado. O autor apenas segue a linha de pensamento da grande maioria da sociedade, o capitalista selvagem, o homem em sua essência pérfida, que apenas suga o que há de bom para se dirigir a outra fonte. Não é descartado em nenhuma linha do livro que o cinema pode ser considerado arte, mas e inegável que, principalmente hoje, os grandes filmes são voltadas para o divertimento puro e simples. São relativamente poucos aqueles que produzem e a porcentagem e da mesma forma pequena quando se trata de quem assiste ao chamados “filmes de arte”, às vezes por preguiça, às vezes por não ter acesso a eles.

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A principal ideia que Sevcenko imprime em seu texto é expressa quando afirma que o ser humano tornou-se refém de si mesmo, de sua prepotente inteligência, de sua busca pelo Maximo e que acabou por deixá-lo cego aos problemas que o assassinato das raízes sociológicas pode proporcionar. Progresso pelo progresso, cultura transformada em dinheiro vivo, nada mais importa ao olhos do homem moderno. Tudo o que consome são produtos pop, da cultura massificada, apenas referências de referências do que um dia já foi original, regional, significante de alguma postura, atitude, opinião ou estética.

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As galerias de arte, segundo o autor, são o exemplo básico de como a arte se tornou distante da realidade das pessoas. Essas galerias expõem obras de autores que pouco tem a ver com o local onde sua arte está sendo absorvida, por pessoas que pouco tem a ver com realidade presente. São como peças inseridas artificialmente num universo estranho. O mais incrível e que não são as pessoas que moram nas regiões das galerias que vão a essas exposições, e sim grupos que acompanham essa “arte” e que viajam para tal lugar – a atmosfera do lugar em si, as pessoas que, pressupõe-se, deveriam receber a atenção dos artistas, pouco importam.

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Apesar do tom apocalíptico em diversos trechos, o autor se despede do leitor plantando uma semente na cabeça de todos aqueles que querem um mundo diferente. Exemplificando ações da contracultura, principalmente norte-americana, capítulos antes (ativismos anti-Vietna, expressões artísticas na musica, nas artes plásticas, até mesmo no cinema experimental), o autor faz um comparativo sublinear ao citar o grupo Regain the Streets.

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Como os “inconformados” das décadas anteriores, esse grupo toma de assalto o lugar-comum da sociedade capitalista acostumada as injustiças de cabeça baixa ao atrapalhar diversos símbolos do novo século, como bancos, casa políticas, vias públicas, etc., para fazer uma verdadeira festa com direito a música ambiente. É a revolta em sua forma mais provocativa.

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“A corrida para o século XXI – no loop da montanha-russa” é uma experiência obrigatória para quem quer se conhecer e conhecer o mundo em que vive, suas peculiaridades e as razões por trás de tanta coisa que achamos estar erradas ou certas. A montanha-russa nada mais é que a linha do tempo histórica, que o próprio tempo do mundo que segue indefinido e que carrega apenas uma certeza: de que vai continuar sempre. Resta saber se nos estaremos nesse mundo. Como bem finaliza Sevcenko, a escolha cai sobre nós – mas será que queremos?

1 Comments:

Blogger Du said...

Pq vc não escreve uma coisa construtiva e menos "eu quero ser Pedro Bial"?

8:56 AM  

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