Avenida dos Sonhos, 1988

Escritos cômicos e cósmicos...

segunda-feira, novembro 28, 2011

Molotov com Açúcar ou Quatro palavras para procurar no Aurélio

A relação incongruente entre o que faz, acredita e diz acreditar é o que dá rosto para a classe universitária paulistana - a realidade mais próxima, com a qual convivo diariamente, seja nos corredores da Metodista ou nas redes sociais.

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É fácil chamar o outro de burguês, de reacionário, assim como é fácil deixar a ideologia de uma classe dominante legitimar qualquer que seja o discurso, como o que defende que o ex-presidente Lula deva tratar sua séria doença no sistema público.

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Confundem-se nesses casos a 1) ingenuidade e a 2) ignorância de uma parcela considerável da sociedade que, verificado sem muito esforço na observação (qualquer segunda-feira mostra os bares lotados em horários de aula), está preocupada apenas em “catar as minas”, “fumar baseado” e, em alguns casos “conseguir um diploma” (não uma boa formação). Existe sim juventude engajada, intelectual e politicamente, mas ainda está longe abrir mão da zona de conforto pra dar as caras na revolución de fato.

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Ir na onda do Lula, trate-se no SUS, por exemplo, pode ser considerada uma atitude cool, de indignação e demonstração da vontade política. Na real, só deixa transparecer a falta de consciência de uma grande fração que, literalmente, não sabe a diferença sutil entre anarquia, socialismo, fascismo, capitalismo ou neoliberalismo. Os termos não são importantes, os sistemas vem e vão, mas saber a diferença entre 3) liberdade e 4) repressão é o princípio básico de uma sociedade que aspira longevidade, como a nossa.

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As ideologias políticas - todas - disfarçam-se entre essas nomenclaturas pomposas, lotadas de argumentos que querem fazê-las valer de fato, mas que excluem verdades factuais da equação. Entende-se: policiais abordando pessoas no campus da universidade é, no mínimo, invasivo - tragar o cigarro de maconha não é e nunca foi aconselhável, assim como os cigarros lícitos que causam tantos ou mais problemas de saúde...

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Então porque os fumantes - ou os donos de estabelecimentos que infringem a lei paulista, que proíbe fumar em ambientes fechados - não vão para a cadeia, seguindo a coerência da PM paulista, que fez questão de agir com os estudantes da USP de forma tão “amigável”? Recomendo a leitura de uma matéria da Vice brazuca pra entender uma das vertentes de opinião.

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Mesmo assim, os slogans de hoje - em praça pública ou no Facebook - não causam muitos efeitos. É a irritância dos pseudo-militantes de uma brigada invisível, que brada contra o ciclo vicioso do servilismo mercantil à tarde e dança ao som do pop-rock-inglês-maracatu-caetano-chico na boate, regado a muita vodkinha à noite. É o paradoxo da minha geração. O triste é que os tais poderiam, enfim, reivindicar o bem comum - com ferramentas específicas para isso - mas acabam olhando apenas para os próprios interesses que, infelizmente, nem sempre são os melhores. Minha dica pra tornar este texto otimista: vote direito, porra. Se você acredita que seu voto não vale nada, ele não vai valer nada. Nunca.