Avenida dos Sonhos, 1988

Escritos cômicos e cósmicos...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Zelda: A Lenda de Miyamoto

Pra quem talvez desconheça sua história, diria que o gênio da Nintendo, Shigeru Miyamoto, não tinha a menor idéia do sucesso que seu pequeno duende de orelhas pontudas faria. Mas, na verdade, Miyamoto não só tinha idéia como esforçou-se bastante para conseguir tornar os seus jogos nos mais venerados do mundo. Criador do personagem Mario (o símbolo da Nintendo) e com uma reputação recém alcançada à época do lançamento do primeiro jogo da série Zelda, ele não só definiu o padrão de entretenimento por duas ou mais gerações como foi influenciado por si mesmo. O sucesso repentino de Donkey Kong e Mario deixaram-no preparado para criar aquele que seria o personagem mais complexo de sua carreira: Link.

Com uma história simples, manjada, contada mais mil vezes desde os primórdios da humanidade, onde o pobre escolhido tem de salvar a princesa aprisionada por um ser malévolo e sem coração, o jogo The Legend of Zelda (1986) fez sucesso. E muito. Tornou-se um ícone, um dos jogos mais inovadores de todos os tempos, com uma jogabilidade sensacional para os padrões da época e criando um mundo enorme, cheio de possibilidades para seguir em frente com o herói. Havia nascido o clássico dos clássicos dos RPG e Miyamoto acabara de se tornar único em seu estilo, fazendo com que milhares de fãs delirassem em todo o mundo, vibrando para saber qual seria o próximo passo do mestre do console.

No ano seguinte ao lançamento do primeiro Zelda, a Nintendo lançou Zelda II: The Adventure of Link (1987), no mesmo estilo de jogo da série Mario. Toda a inovação criada no primeiro, dessa vez ficara de fora e a continuação não obteve o sucesso esperado, ficando marcada e desapontando muitos fãs. Essa reação fez com que Miyamoto repensasse seriamente no estilo que deveria seguir pela frente e isso levou tempo. Somente em 1991 foi que a resposta aos fãs chegou ao mercado: The Legend of Zelda: A Link to the Past, lançado para o Super NES, alcançou sucesso imediato e tornou-se um verdadeiro sucesso de vendas. Considerado um dos melhores jogos da sua geração (e até da história), consolidou a série no cenário mundial e consagrou ainda mais Miyamoto. O fracasso do jogo anterior não impediu o sucesso desse que se tornou referência para os video-games.

Durante alguns anos a série foi deixada de lado (ou, na opinião de alguns, sendo aprimorada), fazendo com que somente outro Zelda fosse lançado, dessa vez para o console Game Boy. The Legend of Zelda: Link's Awakening (1993) entrou quieto e saiu calado, não foi um fracasso e nem um sucesso. O jogo serviu de consolo para os fãs que não viam a hora de obter outro jogo das aventuras de Link.

Em 1996 o mundo dos games mudou. Uma nova era havia começado. Os jogos 3D, toscamente testados em consoles anteriores, tomaram rumos certos com o Nintendo 64. Jogos clássicos sendo relançados, novos jogos tomando conta do mercado e os velhos fãs do pequeno Link aguardando ansiosamente pelo surgimento do primeiro Zelda em três dimensões. Muitos desapontaram-se quando perceberam que a série não estava nos planos iniciais para o alavancamento do console, mas sentiram-se confiantes quando boatos surgiram dizendo que num futuro próximo eles teriam o que tanto aguardavam. Foi mais ou menos um ano e meio depois do lançamento do N64, quando propagandas na TV anunciavam com pequenos trailers de animação uma série de sequências de ação, aventura e fantasia, que o mundo ficou alvoroçado. Meses antes, os fãs mais árduos já choravam de prazer com as notícias que chegavam dia-a-dia (alguns até asustaram-se quando um outro boato disse que o jogo era curto e sem o "feeling" necessário). Então, na madrugada do dia 23 de Novembro de 1998, o mundo o conheceu.

The Legend of Zelda: Ocarina of Time causou um terremoto de escalas inimagináveis, dividindo a era dos video-games em antes e depois. Com uma jogabilidade impressionantemente boa, o jogo, em menos de cinco meses, vendeu mais de cinco milhões de cópias e tornou-se, novamente, um ícone e uma referência para todos aqueles que apreciavam a verdadeira arte dos jogos de consoles. O primeiro jogo da franquia totalmente em três dimensões, trazendo uma história digna de um livro de Tolkien, não foi apenas um sucesso passageiro de vendas. A cada dia mais e mais fãs surgiam, alguns até com a idéia de que esse fosse o primeiro jogo da série, rasgando elogios e cultuando a obra de Miyamoto. Além do público, a crítica adorou: Ocarina of Time levou para casa os prêmios de Melhor Jogo do Ano, Excelência em Design Interativo, Excelência em Engenharia de Sofware, Melhor Jogo do Ano para Consoles Domésticos, Melhor Jogo de Aventura para Consoles Domésticos e Melhor Jogo de RPG para Consoles Domésticos do 2th Annual Interactive Achievement Awards, premiação promovida pela AIAS (Academy of Interactive Arts & Sciences) do ano de 1999. Ainda, diversas revistas de games (como a japonesa Famitsu, dando a nota máxima ao jogo, mesmo tendo severos e rigorosos critérios) elegeram esse como o melhor jogo de todos os tempos, e ainda mantém seu posto, quase dez anos depois. Há quem discuta o quão bom ele é, mas somente por quê não apreciam a história ou por serem fissurados em outros estilos de jogo. O fato é que nunca nenhum jogo havia tocado tanto os "gamers" como o primeiro Zelda para N64, e, até hoje, nenhum outro o fez. É, sim, o melhor jogo de todos os tempos e é muito improvável que se faça algo do tipo em escala. Ocarina of Time fez renascer o gosto pelo RPG clássico, adicionando novos elementos, entrosando os velhos aos novos fãs e mudando o mundo dos video-games para sempre.

A série lançou diversos outros títulos tanto para o N64 (Majora's Mask), o Game Boy (Oracle of Ages, Oracle of Sesons, Four Swords e o The Minish Cap) e para o mais novo console da Nintendo, o Game Cube (The Wind Waker, The Four Adventures e o ainda a ser lançado, Twilight Princess), mas nenhum alcançou tanto sucesso quanto Ocarina of Time em seus vinte anos de história. Só nos resta esperar por mais alguns para uma nova revolução acontecer, nada de muito assustador para Miyamoto. Sim, ele quer mais, mas se parasse por aqui, não poderíamos reclamar. Afinal de contas, o mestre tem de descansar, e sua criação... Bom, Link ainda terá muitas aventuras a percorrer.

Mais informações sobre a série no site oficial http://www.zelda.com/