O Livro

Recebi às portas da Universidade um livrinho preto intitulado “Novo Testamento: Versão Restauração”, o que me remeteu comicamente a uma seqüência, algo como a parte dois de um filme. Cômico, pois, no caso, tratava-se da Bíblia Sagrada, algo que, supostamente, os homens não podem modificar sem a interferência direta da mão de Deus. Ahan.

Assisti no cinema “O Livro de Eli”, uma epopéia a la Mad Max com forte influência pósmodernista norte americana (não pelo teor de fim do mundo, é mais pelo iPod mesmo). Não deixa de ser bom. Faz justiça aos seus predecessores e eleva o nível de serotonina que só a violência gratuita pode proporcionar. O que mais chama a atenção é a verdadeira jornada que os homens empreendem para alcançar seus objetivos. Eli, do título, faz de tudo para chegar ao seu destino, o oeste mítico desde tempos ancestrais. Seus inimigos, liderados pelo inescrupuloso Carnegie, não ficam atrás e, de fato, cumprem aquilo à que se postaram a concluir. Não é necessário mais que duas linhas para relatar que Denzel Washington e Gary Oldman levam a trama com os pés nas costas.

O objeto de desejo (por parte de Carnegie) e zelo (por parte de Eli) nada mais é que o último exemplar conhecido da Bíblia Sagrada do Rei James. Revelação feita, é um mindfuck pra lá de curioso, perspicaz e subliminar. Aceitar que os homens matarão pela palavra da Deus? HA! Civilizações atrás de civilizações (atualmente, o pessoal lá do Oriente Médio, que disfarça interesses mercantilistas com ideologia religiosa) já se dizimaram por diferenças culturais, entre elas a religião, mas aceitar que isso possa ocorrer na sociedade capitalista, no mundo cão do “salve-se quem puder” (típico do neo liberalismo), que possa ameaçar o modo de vida de um estado laico? Só na ficção. Ahan.

Fato é que o filme engancha os homo sapiens pela sapiência do discurso. QUEM POSSUI (A.k.a.: DETÉM) A CULTURA GUIARÁ (A.k.a.: CONTROLARÁ) OS HOMENS (A.k.a.: IGNORANTES). Nada mais simples e interessante. O futuro da humanidade está aí, assim como seu passado de glórias injustas. É por isso que não assisto Zorra Total, é por isso que leio um livro ao invés de assistir todos os jogos do campeonato espanhol (alguns sim, pois ninguém é de ferro) e é por isso que não sei se terei filhos, se me casarei ou o que vou jantar daqui doze horas. Fica a dica.