Avenida dos Sonhos, 1988

Escritos cômicos e cósmicos...

domingo, setembro 21, 2008

DICA: Indie Glamour com The Killers

Para quem não conhece e/ou não tem o hábito de se inteirar das novidades e excentricidades do gigantesco nicho musical pouco sabe da banda norte-americana formada em 2002 The Killers além de Somebody Told Me e Mr. Brightside, dois sucessos muito reproduzidos pelas rádios de todo o mundo, inclusive as do Brasil. Não deixam a desejar: são duas faixas colhidas do primeiro álbum do quarteto de Las Vegas, intitulado Hot Fuss, lançado em 2004 e que recebeu elogios da crítica e do público em geral.

Nesse álbum, inclusive, podem-se encontrar verdadeiros hinos da música indie, não devendo nada às recém consagradas, como Take Me Out, da banda escocesa Franz Ferdinand (eu mesmo confundia as duas bandas antes de conhecê-las melhor). Hot Fuss consegue prender o ouvinte até o último suspiro de Brandon Flowers, vocalista, tão sublime é a experiência de rodá-lo de uma ponta à outra em seu player. Como referências, eu tomo, além das duas já citadas, as faixas All These Things That I’ve Done, com a frase musical mais representativa da última década para mim (“I’ve got soul but I’m not a soldier” – eu tenho alma, mas não sou um soldado) e Midnight Show, com seus gritos alucinógenos do começo ao fim.

Sam’s Town, de 2005, é aquele tipo de disco que determina o sucesso ou a perdição de uma carreira musical. O disco rendeu-lhes quatro singles, um deles apenas que chegou a figurar entre as mais pedidas nas terras brasileiras (esta sendo Read My Mind, eleita pelo próprio Flowers a sua música preferida até então). Entre elas estão When You Were Young, Bones e For Reasons Unknown, todas ótimas pedidas no melhor estilo do rock alternativo.

Com status de banda cool até entre os músicos do meio (Robbie Willians, U2 e Coldplay incorporaram trechos das letras do Killers em suas próprias canções nas apresentações ao vivo – e fizeram parcerias com o vocalista ou covers, coisa que geralmente não acontece com qualquer banda emergente), os rapazes do estado de Nevada pareceram entender do que se tratava a música que tão bem produziam. Curiosamente, talvez pelo estilo escolhido, o quarteto faz muito mais sucesso nas ilhas britânicas do que em sua terra natal – o britrock parece estar em suas veias.

E não passou em branco a passagem do grupo em nosso país, no TIM Festival de 2007. Em São Paulo, o Killers parecia ter trazido Las Vegas na bagagem. Após a apresentação, que se iniciou com uma hora de atraso, os ânimos estavam extasiados. Pelas palavras de Alexandre Schneider, do portal UOL, “ao vivo, o grupo ganha um ar superior, como se fossem feitos para tocar em lugares abertos e cheios de pessoas. De baixo bem marcado, guitarras polidas e espaciais e o elemento Brandon Flowers, o Killers trilha o arriscado caminho de se tornar um novo U2”.

Como um aperitivo antes do prato principal, a banda disponibilizou nas lojas, em outubro de 2007, um álbum contendo novas e velhas b-sides, raridades e covers, como Romeo and Juliet, do Dire Straits e Shadowplay, do Joy Division (música que incorporou a trilha sonora do filme Control, de Anton Corbjin – que trata da trajetória de Ian Curtis, líder do Joy Division). Sawdust, o título do disco, precede o quarto álbum de inéditas, Day & Age, que será lançado em 24 de novembro próximo. O primeiro single, Human, estreará mundialmente em 22 de setembro, menos de 24 horas após essa resenha ser terminada. Só nos resta esperar para sermos vitimados mais uma vez pela virtuosidade de uma das bandas mais promissoras dos últimos tempos.

quinta-feira, setembro 04, 2008

A minha, a sua, a nossa Geração Orkut!

E dizem que os brasileiros são atrasados. Não no quesito interatividade! O Orkut é o maior fenômeno da internet em nosso país, comprovadamente pelo número de usuários que, faz tempo, já ultrapassou os da terra do Google. Em junho de 2007, o Brasil ocupava a primeira posição entre os países com o maior número de usuários, com 55,36% do total mundial. E esse número só tende a crescer. A cada mês, no mínimo, eu leio uma matéria sobre o Orkut na grande mídia, sobre o sucesso que faz, os fatores que levam as pessoas a entrarem nesse mundo tão convidativo. Em São Paulo capital, pelo menos, é muito difícil encontrar alguém entre 12 e 32 anos com acesso à internet que não tenha um cadastro no tal site de relacionamento. Mas essa matéria não se baseará em fontes e entrevistas - aliás, entrevistei apenas duas pessoas, com cinco perguntinhas pertinentes:

-Você utiliza o Orkut frequentemente?
-Quantas vezes por dia, em média, você olha sua página de recados?
-Você acha que o Orkut melhorou alguma coisa em sua vida? Ou piorou?
-Vive melhor com ou sem ele?
-Se ele deixasse de existir hoje, você ficaria muito triste, triste, indiferente, feliz ou muito feliz?
-Qual o maior legado que o orkut deixou para nossa geração, a dos brasileiros na era da internet?

E as respostas, tão simplórias quanto as perguntas, não foram diferentes do esperado: Os dois utilizam o Orkut frequentemente, o primeiro apenas uma vez por dia, para checar seus recados e botar os assuntos em dia enquanto o outro o utiliza assim que tem uma brecha no trabalho, checando e trocando recados com a "galera", marcando compromissos (segundo ele, umas quinze vezes por dia). Ambos acharam que o Orkut melhorou suas vidas, e justificaram já respondendo a última pergunta, de que, com ele, foi possível fazer e manter contato com velhos e novíssimos amigos e conhecidos, não importando distância, raça, cor, credo, opinião política, etc. O primeiro revelou que ficaria muito triste se o Orkut deixasse de existir, enquanto o segundo informou-me que tomaria uma atitude indiferente (mas desconfio que ele tenha mentido!).

De qualquer forma, a opinião geral dos internautas não influi, e sim os números que vemos crescer, dias após dia. Após o Brazilian Takeover (quando os brasileiros TOMARAM o site de assalto, como a mídia internacional faz parecer), tornou-se comum adotarmos termos muy estranhos, se usados cinco anos atrás, numa conversa de bar. Scraps (e seu derivado scrapchat), spams (mesmo que já utilizados antes, são inconfundíveis numa página de recados), profiles, fakes, comús (de comunidades), testimonials, dentre outros, são ouvidos diariamente em escritórios, escolas, até na cozinha de casa, enquanto a mãe apronta o jantar.

O simples fato de ter muitos scraps (os famosos recados) já determinou, nos primórdios do site no Brasil, o grau de interatividade desse ou daquele usuário. O número de amigos sempre foi motivo de preocupação para muitos jovens. Existem comunidades VIPs que só aceitam usuários com certo número de amigos ou certa quantidade de recados recebidos. Uma hierarquia que, no início do orkut em nosso país, se mostrava determinante para o grau de popularidade internética. Hoje, apesar de uma mentalidade ligeiramente diferente, o Orkut ainda mantém seu próprio ambiente virtual, indiferente ao mundo real. Nele, mesmo a pessoa mais reclusa, tímida e obtusa pode ser tornar um líder de proporções gigantescas. Donos de comunidades, o maior exemplo, são tidos como celebridades pelos usuários "comuns".

A melhor faceta do orkut e sua maior herança para a atual e as futuras gerações, ao menos no Brasil, foi ter escancarado as portas para o contato de qualquer pessoa para qualquer pessoa. O processo já iniciado pelos comunicadores, como ICQ (faz tempo mesmo!) e MSN, se transformou numa revolução cultural para os jovens. Legiões de amigos com gostos em comum (eu sou um exemplo disso) e ideais gêmeos conseguiram se conhecer através de uma página cor lilás claro (hoje azul calcinha) e comunidades aparentemente sem nenhuma importância. Casais se conheceram e, tenho certeza que dentro desses quase quatro anos de existência, se casaram e talvez até já tiveram seu primeiro filho.

Há quem diga que o triste disso é que o contato humano perdeu sua força e importância num mundo onde só o que vale são emoticons e gifs engraçadinhos. Mas quem sente falta de um abraço não pode reclamar de ter encontrado, mesmo vivendo em São Paulo, amigos em Salvador, Natal, Aracaju, Belo Horizonte, Roma, Nova York, etc e tal. Nada se compara ao calor, mas uma palavra de carinho com certeza tem sua importância. E nada impede as pessoas que tem condições de se encontrarem, nem que for uma vez na vida - e quem não tiver, ou se sentir incomodado de estar falando integralmente com um monitor LCD, que levante da cadeira e vá para um bar encher a cara e abraçar outros bêbados solícitos a uma boa gargalhada.

Minha dica é: cultive o que há de melhor nos dois mundos. Um dia você estará perdido no centro, sem dinheiro, sem créditos no celular e, claro, sem seu precioso computador. Sentar e chorar? Acho que não. O que a internet ensinou (pelo menos aos jovens) é que o contato às vezes é bem mais fácil do que parece e se o desespero chegar quando as primeiras palavras forem saindo, relaxe: elas sairão do mesmo jeito e quando você menos perceber, já ganhou, no mínimo, mais um contato no MSN, além de mais um amigo na sua imensa lista do Orkut.