Avenida dos Sonhos, 1988

Escritos cômicos e cósmicos...

terça-feira, novembro 04, 2008

Jornalismo ou Música?

Ninguém pode decidir por mim. Trabalhar e ganhar a vida na música ou escrevendo, na área do tão famigerado jornalismo? Dizem por aí (e lá vou eu pressupondo novamente) que tanto num ramo quanto em outro as dificuldades são muitas. Mas é claro! Quem não daria tudo para, ao invés de permanecer trancafiado numa salinha minúscula, - com um ar condicionado ridículo que mal funciona, ouvindo baboseiras de quem manda em você - viver daquilo que gosta (no meu caso, escrever e/ou tocar). Se fosse fácil, pode ter certeza de que eu não estaria aqui mantendo um blog, resenhando fatos e curiosidades da vida para mim mesmo enquanto meu café passa...

Eu amo escrever, por prazer, nas horas vagas ou não, enquanto mil outras prioridades deveriam preencher as lacunas em minha cabeça - e eu amo tocar, penso em músicas feitas por mim ou (principalmente) não, na minha "banda de garagem", no meu "talento desperdiçado", como alguns costumam dizer... E as duas coisas se completam! Me vem à cabeça, então, a expressão "Profissional do Inútil", mas logo chego à conclusão de que não é bem assim: a arte é feita e apreciada por aqueles que têm oportunidade e talento, e eu me considero uma pessoa iluminada por Deus nesse sentido. Não querendo me vangloriar (e ficaria muito feliz se fosse ao contrário) mas não são muitas pessoas que, aos doze anos de idade, já sabem a profissão que seguirão pelo resto da vida - e a minha profissão, indubitavelmente, será a arte. Poderei ser um "artista do subsolo", aquele que de dia é alguém comum e à noite (ou no tempo livre) dedica-se à realização absoluta na tela do computador ou no violão com cordas enferrujadas - e desses, garanto, existem de monte - ou um completo, da "turma do saci" (para não perder uma piada nem tão interna assim), que trabalha, estuda, respira arte. E é uma questão de escolha.


A escolha baseia-se e define-se na fato de você ser bem sucedido economica e socialmente (ou tentar ser, enfim...) e deixar de lado muitos prazeres considerados comuns demais para acessá-los de forma tão recorrente e "promíscua". Enquanto a maioria trabalha a semana inteira para ter seu prazer individual, - limitado às noites de sexta e sábado - pagando as contas e mantendo uma casa como manda o figurino, os outros, a parte restante dos que possuem essa escolha decidem viver cada segundo de euforia e regozijo, mesmo que numa proporção relativamente menor do que aqueles que possuem cacife para bancar viagens a cada semana, por exemplo. E é nessa encruzilhada que me encontro, e muitos se esbaram comigo. Falta-me colhões para tentar, HOJE, o meu ideal de vida pois, não nego, dependo dos meus pais, psicologicamente inclusive, e as amarguras de uma vida por conta própria, HOJE, podem me fazer "desistir do sonho" muito antes dele começar.


Enquanto isso, vou levando. Espero não me recostar numa cadeira aos trinta e cinco e pensar nessa crônica, há muito esquecida, e chorar feito um bebê ao ligar o ar condicionado da mesma salinha de dez anos atrás. Conhecendo-me um pouco, acredito que isso, pelo menos, não chegará a acontecer. Há muita vida em nossa época e dói saber que nem todos terão a oportunidade de vivê-la da forma que deve. Se depender de mim, com uma palheta ou um lápis na mão, tudo será muito mais interessante do que possa parecer.