Avenida dos Sonhos, 1988

Escritos cômicos e cósmicos...

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Viver de Arte?


Ultimamente (me peguei pensando!) percebi que uma de minhas principais manias é a de fazer listas: de músicas, filmes, artistas, livros, algo como um banco de dados nunca organizado - que na verdade não serve para nada. Aliás, me contradizendo, nas listas de filmes eu vejo algum propósito, que é o de adquirir certos títulos assim que meus gastos estiverem balanceados. Pode-se dizer que é a minha (quase) única obsessão sazonal do momento (!?).

Cinema é, por algum tempo já, a meta de vida do pseudo-artista que vos escreve, já que é o único "produto" de arte que consigo alcançar e prestigiar sem muito esforço. A fase atual, que eu não rotulo, mas que darei um nome apenas para melhor ilustrar a situação, chama-se "pesquisa e reconhecimento", onde os filmes são observados e absorvidos pelo meu cérebro já viciado na rotina cinematográfica - principalmente os velhos clássicos (que "caem" dia após outro), os quais têm um momento único onde a câmera focaliza de forma surpreendente algum objeto/rosto/ação e me remete a filmes mais novos que, com certeza, tiveram sua inspiração ali, naquela mesma cena que tive o privilégio de assistir. E a primeira afirmação sobre os clássicos (que vários outros blogueiros já tiveram a honra de chegar à conclusão) é a de que, não importa se são bons ou ruins, o verdadeiro valor é o exemplo que passam adiante.

Clássicos são clássicos pela originalidade e pela repercussão, talvez tardia, que representaram todo um movimento, uma geração ou apenas pelo jogo de cenas improvável e, por isso, maravilhosamente cultuado por novos diretores de cinema, que "espalham a mensagem" através de seus próprios filmes. Fico feliz por saber que Danny Boyle foi reconhecido pela gigante indústria de Hollywood apenas por saber que seus filmes anteriores, TÃO BONS, finalmente terão, se a história não me corrigir, o valor clássico das obras de Scorsese, Coppola e Kubrick (no mínimo) daqui há uns bons vinte anos.

Minha história com as listas não é de hoje, nem minha história com cinema. Fui prestar atenção nesse tipo de coisa em meados do ano 2000, quando em todos os lugares que se olhasse via-se uma propaganda d’O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, o filme de fantasia/aventura mais promissor de todos os tempos (não lembro na opinião de quem!). Bom, foi depois de assistir a esse filme que um “click” aconteceu dentro de mim. Na semana seguinte eu estava com o livro em minhas mãos, sendo devorado vorazmente, página por página, até o fim, uns três, quatro meses depois. Minha vida nunca mais foi a mesma. Aos poucos, tomei ciência da dimensão que a ficção, seja na literatura, na cinematografia, na música, em qualquer outro tipo de arte, é a maior fonte de prazer que um ser humano com imaginação fértil pode ter. E então o segundo “click” ocorreu num momento ímpar: o que eu faria para viver? Não foi difícil juntar as duas coisas.

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Aqui eu interrompo momentaneamente o assunto central da crônica para mostrar o que se passou comigo até a luz se abrir novamente no horizonte.

Ao mesmo tempo que me regozijava com os produtos de arte (na época eu não tinha tanto senso crítico) que me eram jogados pela TV, pela Internet, etc. e tal, precisava estudar para o vestibular, coisa que fiz de um modo tão despreocupado que não me surpreendi por não passar na faculdade esperada. O curso escolhido, Jornalismo, sempre fora a primeira escolha, mas a faculdade, UNIP, a qual iniciei ao fim do colegial, me tomou um ano e meio que passaram voando. Para se ter uma idéia, as coisas em que pensei nesse tempo matriculado na UNIP foram: festas com os amigos, baladas e bebedeiras homéricas, relacionamentos, amizades, coisas importantes, mas que devem seguir seu curso junto com a faculdade e a carreira escolhida. No meu caso, não. Ao fim do terceiro semestre, meio que caindo em mim, decidi que era hora de parar, retroceder. Não queria ser mais um profissional em minha área. Precisava de uma boa base para o que quer que eu fosse fazer. Por meio ano fiquei estudando (não posso mentir, também foi menos do que devia), prestei vestibular para a Cásper Líbero, a qual não passei e me matriculei, então, no cursinho do Etapa, para uma nova tentativa no ano seguinte.

Enfim, a Metodista ainda mantinha abertas as inscrições para o processo seletivo e lá fui, sem pretensão alguma, fazer a “prova digital”, que acabou se tornando o passaporte definitivo para um rumo certo em minha vida. Agora me sinto com a responsabilidade de plantar e colher bons frutos nos (pelo menos) quatro anos vindouros. Não posso culpar nada além de eu mesmo se algo der errado, pois já sei o que está por vir, então nada me pegará se surpresa, ao menos nos dois primeiros anos, nem poderei culpar a faculdade, que faz rodízio entre as melhores faculdades de jornalismo de São Paulo.


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Então, o cinema voltou ao meu raio de visão (pelo menos nessas proporções catastróficas) quando a revista Veja resolveu lançar a tal da Cinemateca. Decidi que ia comprar um por um todos os 50 títulos e tantos outros que me viessem à cabeça, pois só dessa forma – assistindo a filmes – é que eu poderia me tornar, algum dia, apto a escrever sobre ou até mesmo dar palpites cheios de razão em relação a determinada produção. Uma idéia foi a de produzir um Podcast sobre filmes em geral, em parceria com um amigo que também gosta do tema, mas que não deu em nada por diversos motivos, um deles a necessidade de manter os pés no chão (no meu caso) ou o total inverso disso (no caso dele).

Pensei seriamente em fazer faculdade de cinema, mas com certeza é um plano para depois de algo mais “firme” ser concretizado. O curso de jornalismo, creio eu, abrirá portas para o assunto específico que eu desejar, e será um caminho, mesmo que difícil, para fazer o que sonhei com onze anos de idade: viver de arte. A literatura e a música também ocupam posição importante, como se representassem a medalha de prata num campeonato disputadíssimo. Vira e mexe, penso em largar tudo e sair com minha banda para tocar em lugares remotos do Brasil, fazendo dinheiro suficiente para a comida e a gasolina. Ou então me trancar num quarto e escrever a obra-prima da minha geração até então, tendo tempo apenas para necessidades básicas, cometendo homicídio social em níveis dramáticos. Mas eu acho que não preciso de tanto para ser feliz. Para mim, basta a felicidade e talvez, quem sabe, fazer uma pequena contribuição ao universo das artes que me inspira todos os dias a continuar...