Avenida dos Sonhos, 1988

Escritos cômicos e cósmicos...

quinta-feira, março 06, 2008

Ode ao jornalista e ao escritor

Nós nos utilizamos uns aos outros, e tentamos (?) roubar o talento alheio. Talvez seja uma forma de nos expressar (em conjunto, é mais fácil. Ou não), uma forma de aparecer. Em alguns casos, pensamos muito antes de escrever, em outros, escrevemos sem pensar. O que importa é mostrar que temos certa relevância (mesmo que imperceptível). Irrelevância e falta de nexo são constantes na vida, mas na escrita, se aparecer, tem de permanecer inócua, disfarçada de "sentido oculto". Sejam bem-vindas, moscas e senhoras, senhores e montes de feno rodando no ar desértico. Apreciem, se puderem, nossa falha diária em traduzir os aspectos pitorescos de nossas vidas sem direção definida. Bem-vindos ao nosso reino particular e cheio de avessos. E não se esqueçam das flores e pedras ao sairem.
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O jornalista é escritor, mesmo que não o queira, mas o escritor não é, necessariamente, jornalista. Talvez só no sentido literal, de diarizar os fatos em seu caderninho velho. Mas os escritores são, em alguns pontos, superiores e inferiores aos profissionais do dia-a-dia. Muito provavelmente na imaginação, batem de frente com artistas de todas as áreas, e é tão bela e brava e corajosa sua luta que conseguem transportar qualquer um para qualquer lugar (isso inclui um tempo, um espaço, um sentimento).
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A tristeza de uma raposa velha pode tocar o ser humano como poucas coisas na vida. Tudo depende da forma que a história for contada. E não há parâmetros. Não há regras. Não há fórmulas, nem certo e errado. Há somente o ato de escrever, colocar as palavras em ordem para que, como numa dança arduamente ensaiada e coreografada, se juntem num espetáculo de cor, som, gosto, que faça com que levantemos vôo sem sairmos do chão. O ato de escrever pode se tornar a aventura mais deliciosa e perigosa que alguém jamais presenciará. Quem sabe? O mundo das idéias, e isso já foi comprovado, é muito mais amplo do que qualquer dimensão, qualquer universo paralelo, quanquer infinito, qualquer eternidade. É simplesmente maior. E não há como descrevê-lo. Então, se você aventurar-se, não tome cuidado, não tenha precaução. Jogue-se, e absorva ao máximo. Com certeza, você o fará crescer, e isso é, sim, muito mais do que possível.
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Absorver. Absorver os fatos corriqueiros, transformá-los em algo sensacional não é tão difícil. Precisa de prática, precisa de afinco. Mas dá, fácil. Os meios em que o jornalista se enfia assustam, mas lhe dão vontade de continuar. Eles conseguem farejar, sondar a verdade. E camuflá-la tambem. Talvez o mal maior do jornalista seja a tentação. É facílimo perder-se no caminho, é facílimo deixar-se enveredar por ruas obscuras. A ética precisa estar em mente, mas é muitas vezes esquecida, até para bons fins. Os meios são todos. Aquele que for mais rápido e mais completo, será o escolhido. E cansa, de qualquer forma cansa.
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E os dois se confundem, o escritor por, às vezes, descrever o típico, e o jornalista, por descrever o complexo abstrato. E nessa confusão, uns saem de um lado para outro, outros vagueiam por entre os mundos, outros fecham-se e não se abrem jamais. E, juntos, completam-se, por sua vontade de, sempre, sem exceção, nunca descansar, muito menos em paz.

quarta-feira, março 05, 2008

Jornalistas vs. RP - e o vencedor é: especialização

Baseado em poucos dados, é impossível escrever um artigo completo sobre o jornalista que trabalha em assessoria de imprensa. Mesmo assim, não é tão difícil transpor para o papel minha opinião sobre o assunto, tão em alta em dias como hoje, quando os profissionais da área praticamente dominam o mercado que deveria ser, no mínimo, dividido entre os “RP’s” (profissionais de relações públicas) e os famigerados jornalistas.
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Com poucas aulas sobre o assunto (mas com uma breve experiência, por trabalhar na área), posso dizer que, por ter uma formação mais completa, o jornalista está até mais apto que o RP para exercer a função de assessor. Não conheço a grade do curso de relações públicas, mas o bacharel em comunicação social, além de saber lidar muito bem com a comunicação empresarial, entende o outro lado, o dos repórteres e editores que precisam encaixar matérias úteis e que tenham sentido em seu veículo de comunicação.
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Por outro lado, muitos acham que não é justo o fato de que o profissional de RP estude especificamente a relação entre empresa/funcionário/público e um jornalista, apenas para “fazer um extra”, roube sua vaga na companhia e no mercado de trabalho. Mas, segundo o velho ditado, “quem não tem competência não se estabelece”. O relações públicas, sabendo da dificuldade que enfrentará, da “eterna e árdua luta” contra os jornalistas, tem a oportunidade de se especializar e devotar sua atenção para os pontos que reconhece perder para os jornalistas, de se preparar ao máximo para ser, no mínimo, páreo para um disputa justa.
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Quanto ao jornalista que de manhã trabalha mecanicamente produzindo releases sobre a empresa que representa e à noite, ao chegar na redação do jornal para o qual também presta serviço, tem o poder de utilizar ou não os releases escritos em sua própria “letra”, tudo depende da ética desse incansável trabalhador da comunicação. Mesmo porque, se ele consegue conciliar as diferentes tarefas em diferentes empregos, algo de bom em sua escrita chamou a atenção e merece as oportunidades que tem (salvo algumas exceções do “Quem Indica” tipicamente brasileiro).
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No mais, tanto o RP quanto o jornalista podem, se desejarem, trabalhar na área de assessoria de imprensa, mas somente o mais preparado conseguirá crescer e aparecer nessa profissão. Felizmente (para nós), os jornalistas saem preparados “de fábrica”. Azar o deles.