
O ingresso estava pago, adquirido dois dias antes da estréia mundial, e lá estava eu na fila, formada há duas horas, cheia de fãs e fanáticos, entrando na sala (minúscula, vale ressaltar) que apresentaria a seção das 19h00 do quinto filme da série literária Harry Potter. Antes de começar, tinha a esperança de que aquele filme seria a salvação da franquia no cinema. Mais uma vez, busquei em vão. Bom, pelo menos um pouco...
Não é que seja ruim. Pelo contrário, é um dos melhores da série e, em alguns aspectos, muito superior aos antecessores. Mas as opiniões são diversas. Detalhes técnicos? Essa realmente não é a minha alçada, mas acredito que não tenha decepcionado. O longa contou com uma gigantesca produção (como sempre), um marketing agressivo do começo ao fim e ainda, por tabela, a Warner Bros. por trás. O estúdio tinha a simples certeza de que, mesmo sem um pingo de divulgação, metade dos freqüentadores de cinema no mundo inteiro assistiriam ao filme apenas por ser mais uma história do bruxo britânico. As atuações, longe de serem perfeitas, não soaram falsas, mas, por sua vez, a história, que sempre foi uma das melhores contadas em toda a série até o momento, deixou a desejar no quesito “detalhes”, que tão bem expressa o quinto volume da obra de J.K. Rowling.
Com prós e contras, o filme passa no teste do público e agrada por si só a todos que abrem a mente e não se prendem ao passado de Harry no cinema. É uma diversão garantida, melhor que seus concorrentes atuais no Brasil, como Shrek Terceiro e O Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (este último um ultraje às mentes acima dos 13 anos de idade). No tópico “adaptação”, como já era esperado, os ricos momentos que enchem o livro de puro prazer não são encontrados nessa versão cinematográfica, e os poucos que são, não traduzem dignamente os mesmos. Mas vamos mudar um pouco a direção dessa crítica.
O que todos sabem é que Harry Potter é uma marca muito forte no mercado do entretenimento atual. Podem dizer o que for, mas parece mágica o que o logo HP faz com a mente das crianças e o que fez no auge da febre, há três, quatro anos atrás, justamente no lançamento de Harry Potter e a Ordem da Fênix nas livrarias. Estamos próximos da Segunda Grande Febre, com o lançamento do último livro da série, ainda este mês (em inglês). O que muitos não sabem é que há muito se foi aquele menino estereotipado, usando óculos e com uma varinha na mão, balançando-a aleatoriamente, balbuciando frases em latim, carente de expressões faciais e DURÍSSIMO de se acompanhar por mais de duas horas. Esse Harry Potter, posso dizer com convicção, morreu assim que nasceu, pois somente na mente dos leigos é que Harry permaneceu sendo um garotinho. Ele cresceu, apareceu, lutou, se feriu, sofreu, chorou, odiou, amou, perdoou e, acreditem, morrerá antes que esses mesmos leigos dêem conta.
Mas o problema também surge do outro lado. Como algum leigo entrará nesse mundo tão privado, cheio de fanatismo e adoração, sem olhar torto para o semelhante que reclama em altos pulmões, no meio de uma sessão lotada (que já não é tão quieta quanto se espera) que tal feitiço não foi executado da mesma forma, na mesma hora, do mesmo ângulo do seu livro, que se encontra num altar ao lado da cabeceira, como uma bíblia dourada? O “olhar torto” é completamente justificável e é fácil reconhecer suas vítimas: aqueles que falam de Harry Potter como se fosse uma praga, com um ódio lívido e cheio de palavras chulas para com os personagens, sua história e, muito principalmente, seus fãs adeptos.
Acreditem, isso passará. Daqui a dez anos, tantos adultos terão vivido momentos mágicos ao lado de seu ídolo que o indicarão para seus próprios filhos e, dessa forma, HP deixará de ser uma marca para se tornar um marco. Mas, até lá, é preciso muita paciência tanto para com os anti-HP quanto para com seus fãs.